domingo, 27 de março de 2011

Uma história de amor

amor além das aparências, amor de verdade



“John Blanchard se levantou do banco, ajeitou o uniforme do exército e observou a multidão que tentava abrir caminho na Grand Central Station. Procurou avistar a moça cujo coração ele conhecia, mas não o rosto – a moça com a rosa.

Seu interesse por ela começara treze meses antes, em uma biblioteca da Flórida. Ao retirar um livro da estante, ele ficou intrigado, não com as palavras impressas, mas com as anotações escritas à mão na margem. A letra delicada indicava ser a de uma pessoa ponderada e sensível. Na primeira página do livro, ele descobriu o nome do proprietário anterior, Srta. Hollis Maynell.

Depois de algum tempo e de várias tentativas, conseguiu localizar o endereço dela. Morava em Nova Iorque. Escreveu-lhe uma carta em que se apresentava, e lhe sugeriu que trocassem correspondências. No dia seguinte, ele foi convocado para servir, do outro lado do oceano, na Segunda Guerra Mundial. Durante os treze meses seguintes, os dois passaram a se conhecer por correspondência. Cada carta era uma semente caindo em um coração fértil. Florescia um romance.

Blanchard pediu uma fotografia, mas a moça se recusou a enviar. Achava que se ele realmente gostasse dela, não haveria necessidade de fotografia.
Quando, finalmente, ele retornou da Europa, marcaram o primeiro encontro, às 19 horas, na Grand Central Station de Nova Iorque.
Você me reconhecerá, ela escreveu, pela rosa que estarei usando na lapela.

E às 19 horas, Blanchard estava na estação à espera da moça, cujo coração ele amava, mas cujo rosto nunca vira.

Deixemos que o próprio Blanchard conte o que aconteceu:

Em minha direção vinha uma jovem alta e esbelta. Seus cabelos loiros encaracolados caíam nos ombros, deixando à mostra as orelhas delicadas; os olhos eram azuis da cor do céu. Os lábios e o queixo tinham uma firmeza suave, e sua figura em traje verde claro se assemelhava à chegada da primavera. Comecei a caminhar em sua direção, sem absolutamente notar que não havia rosa em sua lapela. Quando me aproximei, um sorriso leve e provocante brotou em seus lábios.

- Gostaria de me acompanhar, marujo? Ela murmurou.
De maneira quase incontrolável, dei um passo em sua direção e aí avistei Hollis Maynell.
Ela estava em pé, atrás da jovem. Aparentava mais de 40 anos, e seus cabelos presos sob um chapéu surrado deixavam entrever alguns cabelos brancos. Seu corpo era roliço, tinha tornozelos grossos e usava sapatos de salto baixo. A moça do traje verde claro estava se distanciando rapidamente. Senti como se estivesse dividido ao meio, desejando ardentemente segui-la, mas ao mesmo tempo, profundamente interessado em conhecer a mulher cujo entusiasmo me acompanhara e me sustentara.

E lá estava ela. Seu rosto redondo e pálido estampava delicadeza e sensibilidade, os olhos cinzentos irradiavam meiguice e bondade. Não hesitei. Peguei o pequeno livro de capa de couro para me identificar. Poderia não ser um caso de amor, mas seria algo precioso, algo talvez melhor do que amor, uma amizade pela qual era e seria sempre grato.

Endireitei os ombros, cumprimentei e entreguei o livro à mulher, apesar de me sentir sufocado pela amargura de meu desapontamento, enquanto lhe dirigia a palavra:
- Sou tenente John Blanchard, e você deve ser a Srta. Maynell. Estou satisfeito por ter vindo ao meu encontro; aceita um convite para jantar?

No rosto da mulher surgiu um sorriso largo e bondoso.
- Não sei do que se trata, filho, ela respondeu, mas a jovem de traje verde que acabou de passar por aqui me pediu para usar esta rosa na lapela. Falou também que se você me convidasse para jantar, eu deveria dizer que ela está à sua espera no restaurante do outro lado da rua. Ela me contou que se tratava de uma espécie de teste.”

Max Lucado

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