
Existem
pessoas que, por sua forma natural de agir, conquistam os demais.
Algumas são tão estimadas pelas crianças que passam a ser chamadas
de tias, vovôs, sem terem qualquer laço de parentesco.
Assim
era com o senhor Raul. Ele fora, durante anos, o professor de
História na maior escola daquela cidade.
Aposentado,
afeiçoado às crianças e à cultura, ofereceu-se como voluntário
na biblioteca pública.
Idealista
e idealizador, criou um pequeno espaço, no andar térreo, próximo
ao setor de livros infantis, a que denominou o cantinho das
histórias.
Todas
as tardes, durante um período previamente marcado, ali ficava ele, a
encantar os pequenos com suas histórias.
Com
o passar dos meses, o número de visitas à biblioteca foi se
tornando maior. Em especial as crianças e, de preferência, na hora
das histórias de vovô Raul.
Na
proximidade do Natal, o bom professor começou a cogitar o que de
melhor poderia fazer para comemorar, com a comunidade, o nascimento
de Jesus.
Recordou,
então, do que fizera Francisco de Assis, no século treze. Por isso,
buscou amigos e conhecidos, solicitou ajuda, em recursos e mão de
obra, e deu início ao cenário do nascimento do Cristo.
Todos
se entusiasmaram com o projeto. Não faltaram voluntários.
Ergueu-se
o que deveria parecer um estábulo, colocou-se a manjedoura, a palha,
criou-se um ambiente rústico no pequeno canto destinado às
histórias do vovô Raul.
Às
vésperas do dia de Natal, Raul recolheu-se tarde, após verificar
que tudo estava em ordem. Já estavam escolhidos os personagens que,
no dia seguinte, dramatizariam o nascimento do menino Jesus.
Nenhum
detalhe fora esquecido e sabia-se que grande parte da comunidade
acorreria ao evento. Naturalmente, em horários diversos, pois o
ambiente não comportava todos de uma única vez.
Mal
se deitara, Raul teve a impressão de escutar uma voz que lhe dizia
para trocar o local da dramatização para o lado oposto, nos fundos
da sala.
Por
mais que tentasse conciliar o sono, aquilo não lhe saía da mente.
Tanto o atormentou que ele mal dormiu. Levantou-se pela madrugada e
foi chamar os seus voluntários para proceder à mudança.
Não
conseguia saber porque, mas devia fazer aquilo. Era algo dentro dele
que falava alto.
Um
tanto cansados, mas respeitosos, concordaram os auxiliares em
realizar a mudança do cenário para os fundos da sala, no lado
oposto.
Quando
a comemoração atingia o auge e a sala se encontrava repleta, um
estrondo ensurdecedor se fez ouvir.
Todos
se voltaram para o cantinho das histórias, de onde vinha o ruído, e
viram aterrorizados um ônibus desgovernado adentrar à biblioteca
derrubando prateleiras e livros, parando a poucos passos de onde eles
se encontravam.
Foi
então que vovô Raul entendeu que foi a Providência Divina, sempre
solícita para com os Seus filhos, que lhe inspirou, com insistência,
a ideia de realizar a mudança e, na sua intimidade, orou ao divino
Pai, agradecendo.
*
* *
Muitas
vezes, os Anjos nos alertam, através da inspiração, das
dificuldades e tropeços que podem ser evitados.
Todas
as criaturas são desta forma auxiliadas, mas que nem todas se
apercebem.
Existem
mesmo as que levam tudo à conta de superstição e crendice,
esquecidas de que Deus vela por todos, continuamente, providenciando
o socorro devido nas mais diversas ocasiões.